Anitta, a funkeira que lota as casas de shows depois de estourar nas rádios com ‘Fica só Olhando’ e ‘Meiga e Abusada’, afirma que já sofreu preconceito. “Do lado dos funkeiros, eles me viam como patricinha porque eu não nasci em favela. Por outro lado, as patricinhas me chamavam de funkeira favelada”, lembra ela, que na verdade se chama Larissa. O nome artístico surgiu depois que ela se encantou com a protagonista da minissérie ‘Presença de Anita’, de 2001.
Você não assina mais como MC Anitta?
Não tem isso. Não coloquei nem tirei o ‘MC’ do meu nome. Quando comecei, assinava apenas Anitta. Só que, por ser do mundo do funk, as pessoas colocaram o ‘MC’ na frente. Continuo fazendo meu trabalho normalmente. Acabei de assinar com a Warner Music e vamos lançar um CD em abril. Nele, vai ter funk, rap, reggae… Desde que comecei a cantar, aos 7 anos, ouvia de tudo. Desde os sambinhas do meu avô até Xuxa. E sou assim até hoje. Gosto de todos os ritmos, mas o funk me escolheu. Eu fui roqueira, com cabelo rosa pink e alargador na orelha.
É verdade que você cantava no coral da igreja?
Não era um coral. Era eu cantando e meu avô tocando. Depois eu fiz dança de salão e passei a cantar nos bailes.
No começo, você foi chamada de patricinha da comunidade. Isso te incomodou?
Não! Do lado dos funkeiros, eles me viam como patricinha porque eu não nasci em favela. Por outro lado, as patricinhas me chamavam de funkeira favelada, mas eu também nunca liguei. Eu pensava: gente, vocês precisam se decidir se eu sou patricinha ou favelada (risos).
Onde você nasceu?
Nascer, nascer mesmo no sentido de a minha mãe me parir foi no Valqueire (risos). Mas sempre morei em Honório Gurgel. Agora, estou na Barra por ser mais perto das sessões de fono, da aula de teatro… Mas sempre vou a Honório participar dos churrascos de domingo e visitar a minha mãe, que mora lá.
Você mora sozinha aos 19 anos?
Sim. Minha mãe diz que eu moro em um caixote e que não quer sair da casa em Honório Gurgel pra me acompanhar. Mas nem tenho grandes dificuldades em morar sozinha porque tive que me virar desde muito cedo.
Como assim?
Meu pai era empresário. Ele tinha uma loja de bateria de carros. Quando eu tinha 11 anos, ele faliu. Tive que sair do colégio particular em que estudava para mudar para uma escola pública. Meti a cara nos estudos. Fiz um curso técnico em administração e passei para um estágio na Vale do Rio Doce. Só que eu não tinha roupa bonita para trabalhar lá. Então, fazia bico de vendedora de loja. Na época, a Vale me pagava R$ 600. E minha mãe, como artesã, ganhava menos do que eu! Nessa época, eu fiz um vídeo tosco, joguei no YouTube e o Batutinha (produtor) me descobriu. No fim do estágio, a Vale queria me efetivar. Na hora de assinar o contrato, eu decidi avisar que ia ser cantora. Todo mundo lá gostou da minha escolha.
Você se arrependeu de deixar uma empresa como a Vale para se arriscar no mundo da música?
Não. Hoje eu sustento a minha família. E tenho o maior orgulho disso. Meu irmão tem 22 anos e está podendo fazer a faculdade dele. Fico feliz mesmo.
Você foi descoberta depois de gravar um vídeo imitando a Priscila Nocetti. É esse vídeo tosco ao qual você se referiu. Ela é sua referência?
Não. Tento não ter referências porque gosto de ser a novidade da situação (risos). Amo Ivete Sangalo, Beyoncé, Kate Perry e Marisa Monte. Mas não me baseio nisso para não fazer igual.
Você está solteira?
Estou. Infelizmente. Gosto de namorar, mas confesso que sou muito exigente e estou muito focada no meu trabalho. Acho muito difícil arranjar um cara que não encrenque com a minha rotina de trabalho…
O que um homem tem que ter para conseguir te conquistar?
Não sei, porque sou complicada. Uma hora eu sou romântica, outra hora sou grossa (risos). Acho que o cara tem que gostar de tudo ao mesmo tempo, como eu. E também tem que entender o meu trabalho, acompanhar meu ritmo…
Qual foi a maior loucura que um fã já fez para você?
Tatuagem com o meu nome. E são vários fãs! Fico muito feliz porque significa que, assim como eu, eles acham que o meu trabalho vai durar para sempre.
Mas o seu nome nem é Anitta… Você não se chama Larissa?
Você não vai publicar, né? Eu morro com isso!
Por que não?
Quebra o segredo do nome!
De onde veio o Anitta, gente?
Da série ‘Presença de Anita’, de Manoel Carlos. Eu via a personagem da Mel Lisboa e me identificava porque ela era sexy sem ser vulgar.
Voltando ao assunto da tatuagem… Você faria?
De namorado eu não faria porque homem vem e vai embora na maior facilidade. Mas eu quero fazer uma tatuagem para homenagear meus fãs.
Você tem alguma mania esquisita?
Falo sozinha. Às vezes, faço show sozinha. Meu carro não tem vidro fumê porque não sei dirigir com vidro fumê. Aí, escuto uma música bacana e começo a cantar e dançar no carro. As pessoas olham esquisito pra mim…
Você tem sido chamada de “Naldo de saias”. Isso te incomoda?
Recebi esse apelido muito bem. Adoro o Naldo. Ele abre as portas do funk para o Brasil inteiro. Me sinto honrada. Já fui aos shows dele e acho o repertório sensacional.
São amigos?
Não. Esbarrei com ele algumas vezes trabalhando, mas não somos amigos.
Você é uma menina má?
Muito! Porque hoje as pessoas confundem sinceridade com maldade. Só que eu sou má e sentimental ao mesmo tempo. Adoro dar atenção a quem eu gosto e chego a chorar se não consigo atender todos os fãs depois do show. Sou malvada só com os meninos (risos)!
Já namorou algum fã?
Namorar, não. Fiquei uma vez só.
É diferente ficar com fã?
Pra mim foi normal. Poderia ficar de novo, mas não é meu foco agora. Na verdade, eu sou bem chata com isso. Tenho que conhecer muito bem a pessoa para ficar. Não rola nessa facilidade… (risos)
Você gravou o clipe de ‘Meiga e Abusada’ em um luxuoso hotel em Las Vegas. O funk tem glamour?
Acho que pode ter, sim. Eu, Naldo, Buchecha e Sapão mostramos que pode ter glamour. Nos meus shows, por exemplo, uso uma banda enorme com teclado, sax… Mesmo com a nossa cultura, ainda um pouco preconceituosa, acho que o funk pode ter muito glamour sim.
Na semana passada, você gravou um outro clipe em Niterói. É de uma música nova?
É. A música se chama ‘Tá na Mira’ e foi feita por mim. Fala sobre uma mulher que não é muito de dar moral para os caras, mas se apaixona e dita as regras de como ele deve agir com ela. Mas ela deixa claro que, se ele não quiser, está tudo bem. As meninas vão se identificar.
É autobiográfica?
Claro! Fala sobre mim (risos).
Como ficou o seu processo contra a Furacão 2000? Você continua tendo que pagar R$ 5 mil de cada show que fizer?
Não! Deus me livre! A gente resolveu isso muito bem. É página virada. Meu contrato com a Furacão foi bom pra eles e pra mim, mas foi uma fase que passou. Mas não tem briga, não! Me dou bem com o Johnatan (Costa) e com todos de lá. Agora, quem cuida da minha carreira é a Kamilla Fialho, que é incrível.
Quanto custa contratar a Anitta?
Realmente eu não faço ideia porque recebo o mês inteiro. Cada show tem um preço diferente. Depende do tamanho da casa. Não tem um cachê fixo.
Qual é o seu sonho de consumo?
Não sou materialista, mas gostaria de comprar uma casa para mim.
E o apartamento em que você mora, na Barra?
É alugado.
Dá pra ficar rica com o funk?
Tomara que dê. Vai ser uma delícia se isso realmente acontecer (risos).